1/17/2006

O drama, o choque, o horror...

Se há duas ou três semanas atrás me tivessem falado na segunda volta das eleições presidenciais eu ter-me-ia rido na cara do meu interlocutor. Nós portugueses sabemos que a re-eleição do (nosso) presidente é certa, desde que ele não borre a pintura no primeiro mandato. No que os analistas locais apontam para a erosão da fidelidade partidária (Niinistö e o candidato da extrema-direita foram os únicos que fidelizaram o eleitorado do seu partido) eu surpreendo-me por apenas 20% dos eleitores terem votado "útil".
E com Halonen assumi o mesmo, ela que há pouco mais de um ano era avaliada positivamente por mais de 90 % da população, tendo depois descido para os 85% e a quem as sondagens de Dezembro atribuíam perto de 60% das intenções de voto, e sem que entretanto tenha cometido deslize grave na sua campanha.

Talvez seja do carácter pragmático deste povo: por maior que seja a luta e rivalidade, depois de tomada uma decisão, há a exacta noção que todos devem emprestar o seu apoio e labor, e que quanto maior o empenho, melhor o resultado. Os cépticos asinalarão reminescências da finlandização dos anos 70, o (a) presidente é quem sabe e não vale a pena levantar ondas.


Na segunda volta, cuja votação antecipada começa já amanhã, Halonen terá como adversário o candidato conservador Sauli Niinistö. Não creio que possa surgir nova surpresa, com 46% dos votos da primeira volta atribuídos à presidente, a tarefa de Niinistö é ciclópica. Ao obrigar a segunda volta, contra todas as expectativas e posicionando-se como alternativa válida, reconhecido até por eleitores de esquerda, Niinistö já venceu e parte na pole-position para as eleições de 2012.


Surpreende-me que em Portugal ainda ninguém tenha apresentado estas eleição como argumento a favor das várias candidaturas de esquerda. Seja porque se trata da candidata de direita que sai fortalecida desta eleição ou porque a Finlândia é ainda um país remoto e desconhecido em Portugal (li dois artigos, no público e tsf, e fiquei com os cabelos em pé com as omissões, simplificações e equívocos dos jornalistas que traduziram e editaram artigos da AP ou da Reuters) é melhor que o não façam, já que as semelhanças terminam aí. Em vez de se preocuparem em agitar papões e debitar ameaços sem sentido em nem sequer os fieis levam a sério os candidatos ocuparam o seu tempo a ocupar o seu espaço político, expôr as suas ideias e sim, a criticar directa ou indirectamente os rivais. Com argumentos plausíveis, com factos, opiniões e sem insultar a inteligência dos eleitores.



Imagem editada a partir de uma outra nesta página dedicada ao candidato da direita (dezenas de imagens), que por sua vez foi editada a partir desta foto de campanha.