10/19/2006

Um país pouco conhecido

Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.

Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores.

Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.

Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados.

E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.

Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais.

E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos.

Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).

Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar.

E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.

Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.

Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência.

Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas.

Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial.

Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça.

Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis.

E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia.

Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis.

E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.

O leitor, possivelmente, não reconhece neste País
aquele em que vive – Portugal.

Mas é verdade.

Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.


Chamam-se, por ordem:

Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp,
GALP, SIBS, BPI, BCP,
Totta, BES, CGD, Stab Vida,
Altitude Software, Primavera Software,
Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial,
Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro,
Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services.

E, obviamente, a Portugal Telecom Inovação.

Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.

E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas
dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos
e anos obtêm grande sucesso junto das casas-mãe, como a Siemens Portugal,
Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal
um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo
são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).

É este o País em que também vivemos.

É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.

Mas nós só falamos da parcela do País que está mal.

Daquele que não acompanhou o progresso.

Do que se atrasou em relação à média europeia.

Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito.

De nos orgulharmos disso.


De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos – e não
invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma
velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez,
puxa uma carroça cheia de palha.

E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito.

Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons serem também seguidos?


Nicolau Santos, Director – adjunto do Jornal Expresso
In Revista Exportar

9 Comments:

Blogger Diana de Sousa said...

Ó João... eu adoro os portugueses... tenho em portugal amigos inteligentíssimos... as pessoas são gentis e o país é lindo. E temos muitas empresas de valor, que lideram mercados mundiais. Mas porque é que apesar disso não conseguimos ter um melhor nível de vida em Portugal? Porque é que metade dos amigos inteligentes e honestos que tenho estão desempregados? E a outra metade mal consegue ganhar para pagar a renda da casa? E por causa disso, a maior parte das pessoas que conheço à roda da minha idade (27-33 anos) não pensa sequer em constituir família, aliás, de todos os meus amigos só 2 casais tiveram a coragem de ter (1) filho? Eu própria, se tivesse em Portugal um emprego que me permitisse ser economicamente independente NÃO ESTAVA na Finlândia... E li há bocado um artigo do Peres Metelo no DN que me deu outra vez a sensação de que o regresso a Portugal ainda está longe...

Reduzir a pobreza

Ele a certa altura diz assim "... Mas o problema mais grave está a montante: o da sobreexploração, sobretudo de operárias que, à margem da lei e de uma inspecção actuante e perante a indiferença de quem lida com esta realidade, nem sequer o SMN ganha."

10/19/2006 12:32:00 da manhã  
Blogger António said...

Diana venham daí essas medalhas :)
Aqui as pessoas tb se demoram na altura de comprometer com a descendencia.

Joao, nao queres cortar o texto neste paragrafo?

"O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive – Portugal. "

Assim tipo "reconhece neste país VER MAIS" :)
Acentua o dramatismo!

A verdade é que todos os países têm multiplas faces, a questão é qual delas é a dominante e qual a que se puxa para diante. Infelizmente esta é a que esconde debaixo do tapete!

10/19/2006 09:48:00 da manhã  
Blogger João Alferes said...

Bem, o texto não é meu...
...nem tão pouco subscrevo todas as ídeias do autor.
Transcrevi porque considero que levanta questões interessantes e óbviamente propensas a gerar discussão ;)

Diana: O que dizes faz todo o sentido - acho que o texto não é sobre isso mas antes sobre (e contra mim falo) a nossa visão fatalista. Infelizmente quando falamos de Portugal tendemos a falar únicamente dos pontos negativos. O texto serve para nos relembrar que também há coisas boas - Vamos para variar, e pelo menos em relação a este, tentar focar os comentários nisso ;)

António: Tens a minha permissão para o fazer ;)

10/19/2006 11:01:00 da manhã  
Blogger Diana de Sousa said...

Pois, eu reconheço que foi uma reacção um bocado a quente. É claro que é bom termos alguma coisa boa para dizer quando nos perguntam sobre o nosso país. Eu até agora referia a industria do vidro, (alguma) têxtil e sei que pelo menos temos uma empresa na área de moldes plásticos que é líder mundial. Para além dos 3 Fs, claro.

Portanto agora eu sugeriria as seguintes alterações ao texto... :)

"Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses, APESAR da exploração e contratos precários a que os temos sujeitado ao longo dos últimos anos."

Agora, caro leitor, IMAGINE onde teríamos chegado se realmente tivéssemos dado condições dignas de trabalho a todos quanto tornaram este desenvolvimento possível e também aos 1500* portugueses (muitos deles com formação superior) que todos os meses deixam o país para procurar melhores condições de vida no estrangeiro.

* há dois anos, quando saí desse canteiro à beira mar plantado, era deste número que se falava...

:)

10/19/2006 11:20:00 da manhã  
Blogger João Alferes said...

Diana: Embora a questão dos salários seja sempre um ponto incontornável, o que torna uma empresa competitiva é o baixo preço da mão-de-obra. Quando não, atentemos na situação que vivem os vários trabalhadores das fábricas do ramo automóvel que estão a encerrar em Portugal devido ao mais baixo custo da produção na "Europa de leste".
Mesmo na Finlândia, e atendendo ao custo de vida, os salários não são tão altos - a diferença está em que os salários são igualmente baixos para toda a gente, gerência incluida.
Também os contractos precários são um estigma da globalização. É inevitável a migração da economia. As próximas super-potências serão (já são(?)...) a China e a Índia que devido aos baixos custos de mão-de-obra estão a "açambarcar" toda a produção mundial e consequentemente a desenvolver as suas economias.

10/19/2006 11:36:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro Joäo:

O que torna uma empresa competitiva *precariamente e a curto prazo* é o baixo preço da mão-de-obra.
O que torna uma empresa competitiva *realmente* é o investimento em capital intelectual, porque esse é muito mais difícil de recriar.

As empresas finlandesas que fecham säo aquelas onde o trabalho é fundamentalmente "manual", logo os chineses podem-no fazer por centavos. Os centros de investigac,äo e design, esses ficam.

Essa é das grandes diferenc,as entre Portugal e Finlândia: a aposta na educac,äo/formac,äo profissional!

As empresas väo para o Leste näo apenas por mäo-de-obra mais barata, para isso deslocalizavam logo pra China, mas porque o nível salarial é o mesmo mas o de educac,äo é mais alto, logo maior probabilidade de poder aumentar a produtividade.
Além, claro, da vantagem em termos logísticos...

10/19/2006 02:59:00 da tarde  
Blogger António said...

ó tu do mba...
nao sabes que jä ha empresas a deixar a china e a dirigir-se para paises vizinhos?

Agora se ë por ser mais barato ou ter menos vigilancia das ONG's ë outra coisa :)

a diferença está em que os salários são igualmente baixos para toda a gente, gerência incluida.


Somos todos dispensaveis e mais vale pagar por baixo.

Eu estive p fazer uma posta, nao sei se concoram comigo ou sou sö eu mas parece que por cä existe um forte sentimento contra a classe media e este pais parece ser governado por uma aliança de ricos (capitalistas e proprietarios) - pouco interessados em ter que hajam mais pessoas com elevado rendimento disponivel,
e "pobres" para os quais a propria existencia de uma classe media é o problema - expoe as desigualdades e pressupoe uma classe abaixo da media ;) e para estes mais do que os capitalistas que engordam com lucros chorudos (um mal necessario) o problema esta que um tipo que estudou mais 5 anos possa ganhar o dobro.

Depois disto a nao me faz confusao pensar no governo arco-iris dos sociais democratas de Lipponen em que conservadores e aliança de esquerda tb la estavam...

10/20/2006 10:15:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ó António, mas é que realmente puseste a nú uma situac,äo real, e verdadeiramente devias postar... EM INGLÊS!

veremos se o "suomi suomi" se picam!

10/20/2006 01:54:00 da tarde  
Blogger Alexandra Pereira said...

olá pessoal,

procuro quarto para alugar em helsínquia em novembro.

gracias,
alexandra

ps - vou para trabalhar e tentar estudar

10/23/2006 09:14:00 da tarde  

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