Lisboa - Pequim
Caminhamos até Seurasaari, a ilha museu, onde encontramos muitos esquilos e uma pequena multidão de visitantes, muitos deles carregando consigo amendoins e amêndoas. Era um daqueles fins de tarde de Outono que não se esquecem, de temperatura amena, o sol brilhava a baixa altitude e a luz reflectia-se na água, as folhas caídas estendiam-se um manto de cores sobre relva e vegetação. Lamentavelmente deixei em casa a máquina fotográfica, suspeito que tão cedo não terei igual oportunidade.
Por perto, um grupo numeroso de turistas chineses, relativamente ruídosos, que tentava, sem sucesso, alimentar os esquilos à mão. Imagino o desconsolo do chinês quando um dos esquilos me saltou para o joelho sem que eu fizesse muito por isso.
E mais desconsolados terão ficado quando nos viram na companhia de um casal italiano, que espera o quinto filho. Erámos 4 adultos e sete crianças, todas elas entre 1 e 5 anos. Sorríam para as crianças, assobiavam e lançavam comentários na direcção delas e até pediram para tirar fotos. A italiana diz que é sempre assim com os chineses quando vai à ilha, efeitos da política de um filho por casal.
Portugal não é a China mas só nos faltou mesmo pedirem para tirar fotografias das crianças. Os chineses são penalizados pelo seu governo se tiverem mais do que uma criança. Qual é mesmo a desculpa dos portugueses*?
*A taxa de reprodução substituição geracional da população portuguesa é de 1,4. Estima-se que seja necessária uma taxa de 2,1 para assegurar a continuidade da população.
4 Comments:
Será a economia, António? Na Finlândia tens uma segurança social que protege e inclusivamente patrocina a paternidade. Em Portugal a realidade é um pouco diversa...
Mais, as infra-estruturas que suportam os pais (infantários, nomeadamente) são muito mais avançadas neste país. É claro que todos nós já sabemos isto, mas nunca fica mal lembrá-lo.
Do que se trata aqui não é de uma "desculpa", mas sim de um ajustamento da vida familiar aos constrangimentos que a precariedade laboral e a falta de apoio à maternidade em Portugal.
Não só sai muito caro criar um filho em Portugal (uma tendência em agravamento com a privatização da saúde e da educação), mas também muitas empresas põem na prateleira e despedem as funcionárias que se atrevem a engravidar. Por exemplo, empresas como as da grupo BCP assumem que não empregam mulheres para evitar baixas de maternidade.
E depois, vêm os moralistas oficiais de serviço dizer que a culpa é das famílias e que elas é que são egoístas e deviam querer ter mais filhos.
Seguramente que as pessoas gostariam de ter mais crianças, duvido porém que a economia possa explicar tudo. A mim não me ocorre nenhuma outra explicação e sinceramente não compreendo.
E não quero estar a fazer comparação mas também por cá há abundante discriminação das mulheres em idade de procriar. Não sei se teve eco nos artigos publicados em língua inglesa, mas um dos temas discutidos há uns meses, e falava-se até da intervenção do governo, era a discriminação das jovens na admnistração pública. Chocante, embora sirva como indicador da competitividade do sector público.
Dou um pouco de razão a todos (se asim me permitem dizer):
Por um lado, creio que a sociedade portuguesa não está a adaptar-se aos novos tempos, não tendo sequer um política de defesa da natalidade (e vejam-se também as consequências da redução do número de alunos). Falta de moblidade social?
Por outro, creio que, a nível social, as pessoas encontram-se cada vez menos disponíveis para ter um encargo, não só a nível financeiro mas a vários níveis...Bom, espero que não vá ler isto nenhuma jovem casadoira. Ficaria logo "cortado" por algumas delas;)
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